3º ano

No 3º ano as crianças gostam de ler textos maiores e mais complexos. Gostam de explorar diversas hipoteses.

Aqui ficam algumas suguestões e boas viagens.

Os ovos misteriosos


(clica na imagem)


Era uma vez uma galinha que todos os dias punha um ovo. E todos os dias
vinha a dona, com uma cestinha, tirar-lho.

- Já pus 1000
ovos. Podia ser mãe de mil filhos. Mas não tenho nenhum por causa da
gente gulosa. - cacarejou certa manhã a galinha. - Vou fugir.

Se bem o pensou, melhor o
fez. Quando a dona entrou na capoeira, como de costume, esgueirou-se pela porta
aberta. Só parou na mata.

Logo aí tratou de fazer o
seu ninho com folhas secas, palhas, penugem, farrapos de lã. Nunca se vira
ninho mais lindo, redondo, confortável. Sentou-se nele e pôs um ovo muito
branquinho.

- Vou encher a
barriga antes de começar a chocar, que aqui ninguém me traz de comer.
- resolveu a galinha, afastando-se em busca de almoço.

Demorou-se, porque ali
tudo lhe era estranho.

Quando voltou, qual não
foi o seu espanto ao ver o ninho cheio de ovos de todos os tamanhos e feitios.

- Cocorocó... Que
vem a ser isto? - disse
ela. - Na minha capoeira tiravam-me os ovos, aqui
oferecem-mos. Mas que sorte.

E logo se aninhou.

Daí por diante, a galinha
mal saía do choco. Estava preguiçosa, sentia o corpo quente como uma botija.

O tempo foi passando.
Quanto, não sabia, porque não aprendera a contar nem se guiava pelo calendário.

Até que...crac! O primeiro
ovo estalou e de lá saiu um bicharoco de bico retorcido.

- Ai, mas que filho, eu até desmaio!

Em vez de ser pinto é um papagaio.

- exclamou a galinha.

No dia seguinte, outro ovo se abriu e de lá saiu, rastejando, uma criatura comprida e sarapintada.

Ai, mas que fillho, como ele é diferente.

Em vez de ser pinto é uma serpente.

- exclamou a galinha.

Nessa mesma tarde, o maior de todos os ovos partiu-se ao meio. A galinha espreitou, desconfiada. Ao ver o que tinha à sua frente, pôs-se a cacarejar:

- Ai, mas que filho, este é de truz!

Em vez de ser pinto é uma avestruz.

Faltavam ainda dois ovos.
Que esconderiam lá dentro! A galinha curiosa, picou um deles. Mas ai caindo para o lado.

- Ai, mas que filho! Deve vir do Nilo!

Em vez de serpinto é um crocodilo.

Ainda se não tinha calado
quando sentiu um reboliço no último.

Ao ver uma penugem amarela,
bateu as asas de contentamento e escancarou o bico:

- Ai, mas que filho!

Diz o meu instinto que este finalmente é mesmo um pinto.

- Olhem a minha
ninhada! - mostrava ela
às galinhas do mato. - É tão variada, é tão engraçada.

- Trata só do teu pinto. Não ligues aos outros bichos. - aconselhava a perdiz.

Mas como podia ela abandoná-los depois de os ter chocado com tanto amor? Que outra mãe havia de tratar deles?

Era feliz, mas vivia num
desassossego.

O papagaio voava para as
árvores e ela não sabia voar.

O crocodilo só estava bem
dentro de água e ela não sabia nadar.

A serpente metia-se por
todos os buracos e ela era gorda demais para a poder ir buscar.

A avestruz, essa, devorava
tudo, não havia comida que lhe chegasse.

Só o pinto, naturalmente,
se portava como um pinto.

Mas ela de todos gostava.
De todos cuidava.

Colocava a serpente quando
ela tinha cócegas, porque à pobrezinha faltavam as patas.

Enrouquecia de tanto
tagarelar com o papagaio, que queria sempre conversa.

Cansava-se a carregar
petiscos para a comilona da avestruz.

Esgravatava o chão em
busca de sementes para o pinto.

E nos intervalos levava as
dentuças ao crocodilo.

Tudo parecia correr bem
até que apareceu no bosque um rapaz.

- Ah, que belo frango!

- disse ele, ao ver o filho verdadeiro da galinha. .

-Vou assá-lo para o jantar.

- Cocorococó - refilou a galinha, o que quer dizer
na sua língua «Não lhe toques, senão pico-te».

O rapaz riu. Pois, quem
tem medo de uma galinha? E apanhou o frango.

Foi então que a serpente,
ao ver o que se passava, se pôs a assobiar à sua frente, mostrando os dentes de
veneno.

- Ai, uma serpente! - gritou ele e atirou-se ao lago para lhe escapar.

Foi a vez de o crocodilo
avançar de boca aberta.

- Ai, que este me come! - gritou novamente o rapaz, subindo para a outra margem, sempre com o frango
debaixo do braço.

Aí estava o papagaio,
empoleirado numa árvore:

- És ladrão, és ladrão, vou prender-te na prisão! És ladrão, és ladrão, vou
prender-te na prisão!

- Um polícia... - assustou-se o moço. - Deixa-me fugir.

Mas logo atrás de si começou a ouvir uns passos, primeiro distantes, depois cada vez mais próximos. A grande velocidade. Era a avestruz. Apavorado, pensando que um polícia o perseguia, o rapaz largou a ave e só parou, esbaforido, na aldeia.

Às costas da irmã avestruz, o frango voltou para casa. Para festejar, a galinha juntou todos os filhos e fez-lhes um bolo com vários andares.

Um tinha milho, para o frango.

Outro, peixe para o crocodilo.

Outro, fruta para o papagaio.

Outro, ratos para a serpente.

E por cima, a enfeitar, sete berlindes, um martelo e vinte pregos, porque a avestruz só gostava de pitéus extravagantes.

Depois do jantar, os filhos fizeram uma roda à volta da galinha e puseram-se a cantar:

Somos todos irmãs, somos todos diferentes:

há uns que têm bico, outros que têm dentes, há uns que têm escamas, outros que têm asas, na terra e na água fazemos nossas casas.

Eu só tenho pescoço.

Eu voo pelo ar.

Eu nado a quatro patas.

Eu cá gosto de andar.

                                          
Somos todos diferentes mas todos queremos bem à boa galinha que é nossa mãe.



FIM


Título: Os Ovos
Misteriosos

Autora: Luísa Ducla
Soares e Manuela Bacelar

Ilustradora:
Manuela
Bacelar

Editora: Afrontamento



Atividade:

Aqui tens um documento/ficha que podes imprimir e realizar.