A Princesinha

17-06-2014 17:05

Era uma vez um príncipe que queria casar-se, como é natural, com uma princesa, mas
era preciso que fosse realmente uma verdadeira princesa. Com este propósito, o
príncipe viajou pelo mundo inteiro, com o desejo de encontrar a prometida de
seus sonhos, porém, embora visitasse muitas princesas, quando se inteirava a
respeito de cada uma delas, sempre havia um ou outro inconveniente que o
impedia de noivar.

Nesse tempo havia no mundo muito mais princesas do que hoje, todavia, quando se
investigava se eram verdadeiras princesas, sempre existia uma certa dificuldade
em prová-lo; e, em muitos casos, descobria-se algum detalhe nada agradável.
Finalmente, aborrecido com a inutilidade de seus esforços, o príncipe
empreendeu o regresso ao seu palácio.

Passou-se algum tempo e o príncipe continuava solteiro.

Uma noite desencadeou-se uma terrível tempestade; o dilúvio era espantoso,
relampejando sem cessar. Em suma, era uma noite má, como existem poucas.

Quando a tormenta estava no auge, alguém bateu na porta do palácio e o velho Rei, em
pessoa, apressou-se a abrir.

Lá fora estava uma princesa, embora em situação lamentável, por causa da chuva e
do vento. A água caía a jorros pelos cabelos e pelo vestido, tinha os pés
encharcados de água recolhida por seus sapatos, mas garantiu ser uma verdadeira
princesa.

- Logo veremos se isso é verdade pensou a Rainha, embora não revelasse a ninguém
seu pensamento, guardando para si as dúvidas que sentia.

Dirigiu-se para o dormitório destinado aos hóspedes, tirou toda a roupa de cama e pós uma
ervilha sobre uma das tábuas de madeira; colocou por cima vinte colchões e
outros tantos cobertores de plumas. Ali deveria dormir a princesa. Chegando a
manhã seguinte, perguntaram-lhe se dormira bem.

- Passei uma noite péssima - replicou a jovem. - Mal consegui fechar os olhos.
Tive a sensação de estar deitada sobre um objeto
muito duro, tanto assim que estou com o corpo todo dolorido. Foi terrível!

Então, tanto os reis como o príncipe compreenderam que ela devia ser uma verdadeira
princesa, pois que fora capaz de sentir a ervilha através dos vinte colchões e
dos vinte cobertores de plumas. Somente uma verdadeira princesa poderia ter uma
pele tão delicada.

E assim, o príncipe a tomou por esposa, porque estava certo de ter encontrado uma
verdadeira princesa. Quanto à ervilha, foi depositada num museu, onde pode ser
vista até hoje, se ninguém tiver tido a tentação de roubá-la, o que acreditamos
não ter sucedido.

E esta, sim, é uma história verdadeira.